ATELIÊ

Meu ateliê é um pequeno ninho empoleirado lá em Santa Teresa, com vista para o Rio de Janeiro. Vejo o Cristo Redentor, o sambódromo, a baía de Guanabara, a ponte Rio-Niterói … Em dias de sol dá até para avistar a ilha do Fundão e os prédios da UFRJ; mais adiante, pode-se ver uma linha de montanhas se fundindo no horizonte. Muito mais perto, em primeiro plano, bem na frente, há três favelas. Meu ateliê não fica na parte chique de Santa Teresa, e ouço tiros, os gritos dos alto-falantes dos vendedores de frutas e verduras, vassouras, ovos … Meu bairro está repleto de uma humanidade que me comove e que eu amo, que me lembra, embora eu não possa esquecer, toda a injustiça dessa sociedade brasileira que não consegue se livrar de sua estrutura colonialista e escravista, toda essa dor carregada não só pelas minhas irmãs pretas, não só pelo meu povo negro, mas por todos aqueles que esta sociedade esquece, não quer ver, explora ou discrimina por motivos de cor, religião, posição social, toda esta dor que gostaria de poder reparar, apagar, aniquilar. É tudo isso que entra em meu ateliê e me inspira.