Por que choramos? Por que as lágrimas aparecem de repente? Para que servem ?
As funções de lubrificação e manutenção da saúde ocular são apenas propósitos biológicos, uma explicação plausível para sua existência. Acredito que existem para derramar nossas emoções, nossos sentimentos, para nos aliviar dos golpes recebidos e dos choques resultantes, para mostrar nossa alegria ou nossa tristeza.
As lágrimas fluem sem nos sufocar. Seja de dor, tristeza ou alegria, as lágrimas rolam pelas nossas faces; algumas evaporam, secam, outras são sugadas, engolidas, absorvidas.
Lágrimas de algodão é uma ode a esses sentimentos, a essas dores presentes ou passadas, à resiliência e à lembrança. A memória dos meus irmãos de cor que, quando escravos, eram considerados ferramentas. A memória do trabalho forçado nas plantações de café ou algodão. Essas memórias que me colocam em estado de alerta profundo e que a sociedade tem dificuldade em ver, reconhecer. Lágrimas de algodão diz, relembra, mostra a invisibilidade da dor que todos os vulneráveis, desprezados, descartados, esquecidos, continuam a sentir e que exigem uma luta diária.
Essas lágrimas de algodão são eternas; já não são transparentes, são alvas; elas não evaporam mais, elas nos mantêm conscientes. Gostaria que todos os humanos pensassem nessas lágrimas de algodão para que, ao menor sintoma, pudessem enfrentar sua dor e abraçá-la para se reconhecer, para se encontrar, para lembrar e superar seu sofrimento. Tudo seria diferente! A suavidade e delicadeza do algodão trariam resiliência e reparação, dariam espaço à vida.
Então, nada seria em vão, dos nossos sofrimentos faríamos armas, das nossas alegrias o pilar de nossas vidas,
os vulneráveis não seriam mais esquecidos, mas presentes, e a harmonia dessas lágrimas de algodão seria a decoração de nossas vidas.