Pourquoi se remémorer ? (Porque lembrar?) – 2023

Este vídeo faz parte da minha pesquisa sobre a doença causada por um fungo nas árvores do gênero Platanus. Os plátanos, pertencentes à família Platanaceae, incluem cerca de dez espécies, sendo o plátano-comum amplamente conhecido na França por adornar praças e ruas. Quando cheguei a Avignon em outubro de 2020, em plena pandemia de Covid-19, as restrições sanitárias impediam de sair de casa. Com o tempo, à medida que as medidas foram relaxando, pude apreciar a paisagem local. Os plátanos são árvores emblemáticas, opulentas e que oferecem uma sombra incomparável. No entanto, com o passar do tempo, notei que várias árvores na rua ao lado da minha residência estavam secas e cortadas. Esta observação se repetia em várias ruas, praças e na ilha de Barthelasse.

Possivelmente devido à pandemia mundial, a correlação que estabeleci entre a doença dos plátanos e a doença da humanidade foi imediata. Investigando mais a fundo, obtive informações valiosas. A contaminação dos plátanos começou no final da Segunda Guerra Mundial, com a chegada na França de caixas de madeira provenientes dos Estados Unidos. Desde 1945, fungos americanos atacam os plátanos franceses, levando ao corte de dezenas de fileiras de árvores, uma medida necessária para conter a epidemia.

Perguntei a um engenheiro florestal francês sobre a possibilidade de um fungicida salvar as árvores a longo prazo e recebi uma resposta franca. Ele afirmou que o destino do plátano-comum francês é inevitavelmente a extinção, pois não era viável usar um fungicida que poluiria o solo, os lençóis freáticos e prejudicaria outras plantas ou árvores. O engenheiro também esclareceu que o fungo não afeta diretamente os seres humanos, mas se tocarmos uma árvore doente e depois uma árvore saudável, nos tornamos vetores de transmissão do fungo. Por isso, ao cortar um plátano, é necessário manusear a madeira com proteção adequada.

Diante de todas essas informações, minha empatia por essas árvores gigantes, que podem atingir de 25 a 55 metros de altura, aumentou consideravelmente. Felizmente, existe a espécie americana, resistente a este fungo, que substituirá, aos poucos, os plátanos endêmicos. Esta solução nos consola, apesar da perspectiva de perda da espécie francesa.

O corte dessas árvores ocorreu em 2 de junho de 2023, durante meu passeio matinal. Não pude me conter e fui buscar minha câmera para registrar todo o desenrolar da ação dos jardineiros. Logo após capturar as imagens dos jardineiros cortando os troncos, realizei minha intervenção urbana “Rememoração” em um tronco da avenida Limbert, Avignon – França. Segui todas as observações feitas pelo engenheiro florestal, agi com todo o cuidado necessário para não contaminar nenhum plátano saudável.

A paisagem que nos cerca é sinônimo desses pedaços de memórias do cotidiano. O espírito frequentemente vagueia sem perceber que cada edifício, cada árvore, é um testemunho silencioso de eventos que nunca mais voltarão. As árvores são monumentos vivos cuja magnificência nos remete à nossa pequenez. No Brasil, meu país de origem, a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, está infelizmente em perigo por causa da ganância dos grandes proprietários de terras. Sua expectativa de vida foi diminuída, sua opulência agressivamente restringida. O desmatamento avança de maneira esmagadora sem que nada venha a preocupar seus atores. Restam apenas trilhas e troncos perdidos em campos devastados. A reparação dessas destruições não será feita sem denúncias, ações e lutas.