Depois de anos distantes de intervenções urbanas, retorno de forma discreta a essa prática artística. Acredito que foi por ser mais uma sobrevivente à Pandemia Mundial de Covid-19, ainda não finalizada, que me lancei, no domingo 11 de setembro de 2022, na rua com o material nas costas e uma ideia fixa na cabeça. “Primeiro preciso explicar que após minha chegada em Avignon, France, durante passeios, deslumbres e observações do cotidiano local, percebi no decorrer do tempo que haviam algumas árvores cortadas na Rue des Teinturiers. Pensei ser uma coisa isolada, mas descobri que há mais de 20 anos aqui em Avignon uma praga ataca as árvores que são obrigadas a serem cortadas para não contaminar as outras. Algumas são extirpadas totalmente dos seus lugares.” Outra pandemia.
Como brasileira, vivi as queimadas, as grilagens, a destruição da Mata Atlântica em nome do empreendedorismo imobiliário, as derrubadas, as expulsões dos povos originários a favor dos grandes latifúndios, da invasão do agronegócio tudo isso e muito mais sem direito a falar, ou agir sem correr o risco de acabar como Chico Mendes ou Marielle Franco ou Dom Philipps ou Bruno Pereira. Assumo a vergonha alheia referente à muitos que constituem o meu povo e que se calam diante de tais barbaridades. Habitar na França onde “Liberté, Égalité, Fraternité” me oferece a oportunidade de me expressar livremente, me direcionou a questionar a falta de tratamento dessas árvores. Desloco a utilização do esparadrapo, com suas diversas finalidades destinadas a cuidar de ferimentos, para despertar uma memória, ou uma lembrança dessas árvores amputadas.